terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Da série: no meu jardim eu só avistava Algarobas

Depois da ponte
(ou quando o Rio Espinharas respirava meus sonhos)


Na década de 70, eu ia muito ao Cine São Francisco, era um espécie de missa dominical, sem reza, nem muito menos pecados pra confessar. Juntava os poucos tostões que eu conseguia, vendendo geladinho e peixe (meu irmão era um ótimo pescador), e reservava uma quantia dessas vendas pra ir assistir TARZAN, e de quebra, trocar alguns gibis... Geralmente íamos eu e meu amigo Gilmar Onofre, saíamos do Bairro das Placas, com destino à Rua Pedro Firmino, e o olhar atento pro centro da cidade... A paisagem era a mesma: muito sol, algarobas e um belo "serrote" ao fundo (que se conserva até hoje), pra aliviar a sisudez da paisagem. Geralmente optávamos por assistir a segunda sessão, é que, muita garotada deixava cair "balas" no cinema e tínhamos aí, uma sessão completa: sem pipocas, mas com gibis e muitas balas pra diversão. O que mais me emocionava mesmo era quando abriam-se às cortinas... a garotada vibrava... palmas e palmas... meus Deus! Quanta emoção...

O canal 100 explodia na tela: Zico, Roberto Dinamite, Mendonça, Adílio... parecia que o mundo era realmente um encanto, e que não existia goleiro, apenas centroavante, e aí nasceu o sonho de eu querer ser jogador de futebol Depois vinha o mais esperado: Tarzan! O nosso justiceiro, o que não permitia covardia, o que salvava a humanidade de todos os males... de todas às dores, de todos os remorsos... Terminado o filme, o THE END na tela, uma sensação de vazio percorria o corpo, uma sessão de saudade já nos habitava, tínhamos até o próximo domingo pra que nosso herói viesse de novo salvar nossas dores diárias. Ao voltarmos pro Bairro das Placas, por volta das 17h00, geralmente eu e Gilmar parávamos no Restaurante da Brasília, em frente ao restaurante, era um "depósito de côcos" que os clientes geralmente dispensavam "a carne", se fartavam e se contentavam apenas com o líquido... Essa era nossa parada obrigatória, passávamos belos momentos batendo papo, falando do filme, dos gibis e nos alimentando da polpa suculenta dos côcos...

Em julho de 2007, passei em frente ao Restaurante da Brasília, dei uma olhadinha pro lixo... nenhum côco abandonado... aí pensei: é... realmente minha infância chegou ao fim.


Réginaldo Poeta Gomes 11/janeiro/2008.

Um comentário:

Wandecy Medeiros disse...

Poeta, muitas árvores se transformaram em armários.
Algumas se transformaram em gavetas e abrigam meias e... poesias.